Conhecidos pela sua cauda brilhante, o espetáculo da passagem de um objeto desses pelas vizinhanças do nosso planeta raramente pode ser observado sem a ajuda de um binóculo ou mesmo um telescópio de pequeno porte. E foi justamente a passagem de um desses objetos, o cometa Neowise, que mexeu com a internet nas últimas semanas.

Cometas são objetos pequenos e muito frios, formados principalmente de poeira e gelo. Na Astronomia, costumamos falar que eles são como “bolas de gelo sujas”. Por não possuírem brilho próprio, só conseguimos identificá-los no céu quando damos a sorte de observar o seu núcleo refletindo a luz do sol. Podemos também saber a órbita de um cometa se já o conhecemos, calculando sua órbita – aí é esperar o momento para observarmos!

Porém, à medida que eles se aproximam da parte mais interna do nosso sistema, lá perto de Júpiter, a radiação emanada do Sol começa a evaporar a camada mais externa de gelo, desprendendo a poeira e o gás que estavam grudados nele. O cometa ganha então uma “cabeleira” ao redor do seu núcleo que chamamos de “coma”. Ao desprender esses elementos, eles são acelerados em direção oposta ao Sol e refletem a sua luz, tornando-os mais visíveis: é assim que surgem aquelas caudas lindas que são tão característica desses objetos. Quanto mais próximo do Sol, maior e mais brilhantes são essas caudas.

O Neowise só foi descoberto em março, quando ainda não podia ser observado da Terra, pelo telescópio espacial Neowise, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA). Como são corpos pequenos, não podem ser vistos em muitos lugares ao mesmo tempo. E quanto mais se afastam do Sol, menos visíveis eles vão se tornando novamente.

Assim, diferentemente da sua passagem pelo Hemisfério Norte, que rendeu fotos belíssimas, a observação do Neowise em terras tupiniquins não foi tão favorecida: apenas foi possível observá-lo mais próximo do horizonte, em locais com pouquíssima luz artificial. Ainda assim, aqui no Rio, por exemplo, o ideal era o uso de um binóculo.

Cometas eram tão raros que seu aparecimento, em diferentes culturas desde a Antiguidade, era sinônimo de presságios ou de acontecimentos fantásticos: os antigos maias da península de Yucatã, por exemplo, já no período colonial, diziam que esses objetos eram restos de cigarro dos deuses.

Não ter visto a passagem do Neowise pode ser frustrante, mas temos que dar um desconto para ele: ele veio da parte mais externa do nosso sistema e terá um longo caminho a percorrer de volta depois. As órbitas dos cometas são bem elípticas e uma volta ao redor do Sol pode durar milhares de anos! Esperemos que, na próxima visita, daqui a 6800 anos, ele possa ao menos ficar para comer um bolinho!