Cais do Valongo, Pedra do Sal, Instituto Pretos Novos, Casa da Tia Ciata, Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira. Esses são alguns pontos do percurso formativo “Pequena África: formação, território e memória”, realizado pela Rede CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos, na zona portuária do Rio de Janeiro. No Dia da Consciência Negra, lembramos essa experiência Interdisciplinar de educação antirracista, promovido pela Fundação Cecierj, vinculada da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, neste território fundamental para a memória da resistência negra.
O percurso teve início no Cais do Valongo, maior porto de entrada de africanos escravizados nas Américas, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade. A visita reuniu cerca de 200 pessoas, entre gestores, professores e estudantes em uma imersão pelos marcos históricos da diáspora africana no Rio de Janeiro, no dia 11 de junho, que se encerrou no restaurante Afrogourmet. O objetivo foi proporcionar à comunidade escolar uma vivência interdisciplinar sobre o território da Pequena África e despertar a reflexão sobre a história do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro.
A iniciativa teve como objetivo fortalecer práticas pedagógicas antirracistas, ampliando a aplicação da lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. “Embora a lei exista desde 2003, o processo de formação ainda é lento. Precisamos que universidades e escolas olhem para a Pequena África não como um apêndice curricular, mas como um ponto de partida para outras epistemologias”, disse Giovanni Codeca, professor da Rede CEJA, que foi o guia da visita.
Ele destacou ainda a importância da vivência no território para a formação crítica dos educadores e também ressaltou o papel da CEJA na educação de populações historicamente excluídas: “Atendemos estudantes que carregam marcas da exclusão e da desigualdade. Trabalhar essas temáticas é um ato de reparação. O racismo é estrutural em nossa sociedade e a educação tem papel central neste enfrentamento”, disse Giovanni, que é doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Identidade, pertencimento e futuro
Para a aluna Gleidelane Martins, da unidade CEJA de Valença, o percurso foi mais que uma aula de história: “uma experiência sobre reconhecer nossas raízes e ancestralidade e sentir na pele a complexidade da nossa história. Não é um olhar distante. Ao subir aquelas escadas, pensei: ‘quantas mãos negras construíram aquilo? Quanto sangue e suor foram derramados ali?’, refletiu.
Marcelo Teles, professor de Geografia e dinamizador da Rede CEJA, reforçou o impacto da atividade na prática docente: “Essas vivências nos ajudam a inspirar os alunos e a combater o racismo estrutural com informação e empatia. Trabalho com alunos negros e pobres que, muitas vezes, não conhecem sua própria história. Precisamos apresentar referências positivas, como Mandela e Milton Santos, para que se sintam pertencentes e possam sonhar com um futuro mais justo”.





