A fim de ordenar e comparar eventos do passado geológico, os cientistas desenvolvem uma escala que divide os 4,6 bilhões de anos da Terra em unidades de tempo, com base nos fósseis que as rochas contêm. Essa escala é dividida sucessivamente em Éons, Eras, Períodos e Épocas (esta última abrangendo centenas de milhares a milhões de anos). E, recentemente, tem crescido o debate sobre a adoção de uma nova Época, o “Antropoceno”. Mas, para isso, é preciso que os cientistas respondam: será que o crescente impacto da atividade humana na Terra poderia ficar preservado nas rochas?

São necessários eventos evidentes no registro rochoso para separar as unidades de tempo geológico; como, por exemplo, a extinção em massa que deu fim aos dinossauros no Cretáceo, e que ficou preservada pela mudança do conteúdo fóssil das rochas deste período. Sendo assim, que evento poderia marcar o início do “Antropoceno”? Ou seja, quais evidências de atividades humanas, deixadas nos sedimentos, poderiam fazer parte do futuro registro rochoso?

Parte da comunidade científica acredita que, dentre outras atividades, estão: a nossa emissão de CO2, pela queima de combustíveis fósseis, causa mudanças abruptas na atmosfera, que poderiam ser detectadas no ar aprisionado pelo gelo polar; além de acidificar os oceanos, fazendo com que corais não mais construam recifes. Além disso, as mudanças climáticas que nós provocamos poderiam ser deduzidas, no futuro, pelo deslocamento latitudinal de plantas e animais, em direção aos pólos.

Contudo, imaginem toda a história da Terra representada num relógio de 24 horas: a espécie humana só surgiria nos últimos dois minutos! Isso é apenas um evento que, diante dos ciclos de colisão e separação dos continentes, dificilmente deixaria vestígio. O registro rochoso é complexo, incompleto e ruidoso. Seria improvável encontrar rastros das construções humanas, porque encontram-se no continente – local de erosão; e não de deposição, como no fundo do mar. Até das armas nucleares não restariam pistas por muito tempo, já que até o isótopo radioativo mais duradouro decai em menos de 16 milhões de anos (cerca de 5 minutos no nosso relógio imaginário).
Por ora, não há bases para formalizar o “Antropoceno” como uma nova Época e, portanto, ainda estamos no chamado “Holoceno”. Porém, se para um futuro distante realmente deixarmos o registro dessa nova Época, este seria o testemunho de uma espécie que, depois de uma infância globalmente destruidora, aprendeu que está unida ao sistema terrestre e à sua história, em contínua evolução.

Referências
BRANNEN, Peter. The Anthropocene Is a Joke: on geological timescales, human civilization is an event, not an epoch. 2019. Disponível em:
https://www.theatlantic.com/science/archive/2019/08/arrogance-anthropocene/595795/. Acesso em: 25 maio 2020.
NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY. Anthropocene. 2019. Disponível em:
https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/anthropocene/. Acesso em: 25 maio 2020.
OBSERVATÓRIO DO AMANHÃ. Museu do Amanhã. Entrevista com Colin Waters: “Há 70 anos entramos no Antropoceno”. Disponível em:
https://museudoamanha.org.br/pt-br/entrevista-colin-waters. Acesso em: 25 maio 2020.
WICANDER, R.; MONROE, J.S. Historical Geology: Evolution of Earth & Life Through Time. 8. ed. Boston: Cengage Learning, 2016, p. 163.