Quem entra no Ceja Jamapará, distrito de Sapucaia, no centro-sul fluminense, se pergunta, ao olhar os brinquedos no corredor, se aquela escola é para jovens e adultos ou atende a educação infantil. Criado em 2016, o projeto “Mãe-aluna” vem transformando o espaço em uma sala de aula acolhedora e atende os responsáveis que não têm com quem deixar as crianças durante o período em que estão estudando.

“Um desses casos foi bem significativo. Uma mãe nos visitou com a intenção de cancelar a matrícula. Nós a incentivamos a prosseguir e ela aceitou realizar uma avaliação e se saiu muito bem. Enquanto fazia a prova, os profissionais se revezavam em cuidar do bebê. O impacto do projeto tem sido positivo e a notícia se espalhou, não apenas no Distrito de Jamapará, mas em toda Sapucaia e outros responsáveis foram chegando”, explicou a diretora Rosangela de Souza.

Diretora do Ceja Jamapará, Rosangela de Souza

Para dar acolhimento aos alunos que pensavam em desistir dos estudos e outros que não sabiam desse recurso, o Ceja Jamapará começou a envolver todos os servidores e os próprios estudantes. Segundo Rosangela, o que os responsáveis precisavam era de uma “autorização” para levar os filhos. “Muitos faziam as atividades com as crianças no colo e, quando adormeciam, usavam berços improvisados que ficavam próximos ou em algum espaço seguro, sob os cuidados de um servidor”, contou a diretora.

Mobiliários e brinquedos, como berço, mesinhas, jogos educativos e bichos de pelúcia, foram adquiridos através de doações e também provenientes da verba de manutenção disponibilizada pela Fundação Cecierj, vinculada da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, responsável pela parte administrativa dos Cejas, escolas da rede estadual de ensino. A unidade conta ainda com fraldários nos dois banheiros femininos.

Leandro de Oliveira e sua filha Ana Rebeca

Ana Rebeca, de 3 anos, filha de Leandro Oliveira da Silva, de 40 anos, é uma que aproveita o espaço. “A possibilidade de levar é maravilhosa, porque nem sempre temos com quem deixá-los. A equipe recebe muito bem, ajeita o berço para dormir e oferece lanche. Tenho visto muitos pais irem para a escola, porque podem levar os filhos. Nesses momentos, mostramos para eles como são importantes e que, apesar da idade, estamos indo atrás. É um incentivo aos estudos”, explica Leandro.

Leandro tem o sonho de fazer Engenharia e conta com o incentivo da esposa Jéssica e da equipe da escola: “Quando nos mudamos do Rio para Além Paraíba, ela deu continuidade e passei a me interessar também, principalmente pela chance de escolher o horário para fazer as provas e as atividades. Já a equipe, quando alguém vê que estamos desanimados, incentiva, conversa com a gente”, destaca Leandro, que parou os estudos no 1º ano do ensino médio.

Espaço acolhedor

Luara, filha de Vanessa Ferreira, brincando no corredor do Ceja Jamapará.

Para Vanessa Ferreira Morais, de 21 anos, a possibilidade de levar a filha, Luara Ferreira da Silva, de 4 anos, fez a diferença para que ela concluísse os estudos, já que frequentava a escola todos os dias. “Eu queria terminar ainda esse ano e, se não fosse a tranquilidade de trazê-la, sabendo que estava em um local seguro, talvez não tivesse acabado. E ela gostava e me pedia sempre ‘mãe, me leva de novo’. É uma ajuda muito grande, além de ser incentivador e acolhedor, para os pais”, explicou Vanessa, que é moradora de Além Paraíba.

Vanessa retomou os estudos na 6ª série do ensino fundamental e retornou ao Ceja no início de 2022, após o nascimento da filha e o retorno das atividades presenciais na escola. “Minha mãe me matriculou lá atrás e está toda feliz que terminei. Fiquei anos para concluir o ensino fundamental e, quando coloquei na minha cabeça que tinha que acabar, fiz em questão de meses. Quero mostrar a importância dos estudos para a minha filha”.

Quem também mostra para os filhos a importância dos estudos é Meggane Louredo, de 33 anos, moradora de Sapucaia. “Converso muito com o mais velho: ‘olha, a mamãe agora está mais velha e não quero isso para você’. Ele vibra que estou concluindo e isso é um incentivo a mais. Estava no 8º ano do ensino fundamental e, com a chegada dos filhos e o trabalho, dar continuidade aos estudos ficou mais difícil. Conheci o CEJA Jamapará por pessoas que se formaram aqui e todos falavam muito bem. Fiquei curiosa, vim, gostei e ainda podia trazer o meu filho”, comenta.

Meggane e Miguel: acolhimento.

Nesta reta final, Meggane tem ido com frequência para a escola para concluir mais rápido o ensino médio. “Procuro conciliar os estudos com o trabalho e os cuidados com os meus filhos. Venho sempre à tarde e, quando a avó não pode ficar com eles, trago para escola comigo. Enquanto estou fazendo uma prova, por exemplo, a equipe fica de olho no Miguel. Esse acolhimento é muito importante, não apenas na recepção com as crianças, mas a dedicação e o incentivo dos profissionais com os alunos. Isso faz a toda diferença”, conclui.