Tudo começou com uma horta, em 2016. Primeiro foi suspensa, depois migrou para uma horta de chão, aproveitando o espaço da escola. Hoje já tem até plantas medicinais. O projeto expandiu e, atualmente, há ainda um meliponário de abelhas nativas brasileiras e, mais recentemente, a criação de um sistema de aquaponia, integrando o cultivo de peixes e hortaliças em sistemas de recirculação de água e nutrientes. Todas essas iniciativas vêm sendo desenvolvidas por estudantes e professores do CEJA Itaboraí, escola da Rede Ceja – Educação de Jovens e Adultos, administrada pela Fundação Cecierj, vinculada da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação.

“A horta sempre foi o fio condutor e o projeto começou com o intuito de trabalhar o conceito de sustentabilidade dinamizando o currículo de ciências da natureza (biologia, física e química). Queremos, com essas iniciativas, aproximar o aluno do semipresencial com a escola, que ele se sentisse mais próximo, além de ensinar conceitos que pudessem aplicar em suas hortas domésticas e na produção dos seus próprios alimentos”, explica o professor Daniel de Souza Santos Candido.

Da horta já saíram couve, chicória, alface, berinjela, jiló, aipim, abóbora, mostarda, cebolinha, salsinha, coentro, manjericão, orégano, amora, acerola, jabuticaba, ameixa, maracujá, entre outros alimentos que são distribuídos para a comunidade escolar. A dificuldade de irrigação foi resolvida com a solução dada por um ex-aluno: a construção de um irrigador automático, com materiais recicláveis, como o uso de uma bomba de máquina de lavar. Já a manutenção durante o recesso escolar foi o ponto de partida para, em uma escala menor, criar um sistema de aquaponia.

“Este trabalho surgiu a partir da constatação de um problema: a dificuldade em manter a horta nos períodos de recesso. Os alunos então sugeriram o modelo que foi aperfeiçoado por eles mesmos. Durante o processo foi possível ver diversos conceitos das disciplinas de Biologia e Química, tais como ecologia, fluxo de matéria e energia nos ecossistemas, ciclos biogeoquímicos, entre outros”, observou o professor.

A ação integra um projeto de sustentabilidade que a escola da rede estadual de ensino tem desde 2016, que já desenvolveu um meliponário (colmeias de abelhas sem ferrão), composteira e o sistema automático de irrigação. As ações pedagógicas realizadas pela escola levam em consideração as características do município, que tem uma herança ligada à produção agrícola, que se mantém mesmo com a urbanização e a expansão de setores comerciais.

“Incluímos a aquaponia, que permite a criação de um minissistema em aquário de peixes ornamentais. O desenvolvimento dessas atividades contribui para estimular a replicação de tal método nas residências dos alunos, favorecendo assim a produção de vegetais e proteína animal para subsistência”, explicou a professora de Ciências Naturais, Elysiane de Barros Marinho.

E isso é o que já está acontecendo com a aluna Patrícia Melri, de 42 anos, que concluiu os ensinos fundamental e médio no CEJA Itaboraí e está colocando em prática o que aprendeu nas aulas no lago ornamental que tem em casa. “Já tinha mostrado o lago para o professor Daniel, que me incentivou a ser uma forma de produção. Estou pensando em como usar a filtragem para ser um local adequado para os peixes e quero usar toda a experiência que aprendi e passar para frente”, explica Patrícia, que completa:

“Esses projetos da escola são ótimos, não só para mim, que estou aprendendo com os professores, como incentivo para os alunos que estão chegando agora. É um trabalho que vemos com frequencia em escolas particulares e aqui está sendo oferecido por um colégio público. Foi o retorno aos estudos que me fez sair de um quadro grave de depressão. Entrei no CEJA em novembro de 2021 e, um ano depois, já tenho o meu diploma”, comemora.

Participação dos alunos

Aproximar os conceitos científicos da realidade dos estudantes é um dos principais objetivos do projeto de sustentabilidade, como explica Daniel de Souza Santos Candido: “Iniciamos com uma oficina de horta suspensa usando materiais reciclados e, desde então, temos aperfeiçoado o projeto, que vem se desdobrando em diversos outros temas e conceitos. A partir de 2017, com minha aprovação no mestrado, comecei a utilizar a abordagem de ensino por investigação para uma construção autônoma de conhecimentos científicos pelos alunos”.

Fernando Sousa Santos, de 23 anos, também é aluno do ensino médio e achou o projeto muito interessante. “Acho bacana que tantas atividades estão sendo realizadas na escola, a partir da horta, que ajudei a construir e é motivo de muito orgulho para mim. Esse trabalho nos ensinou a preservar o meio ambiente reaproveitando coisas do dia a dia, além de ter me ajudado na prova. Parabéns pela iniciativa dos professores, que proporcionaram isso para nós”, disse.

Elysiane apontou os benefícios que o projeto apresenta para os estudantes. “Aproximá-los de um projeto de sustentabilidade tornando-os capazes de serem multiplicadores dessa informação. Se uma das atividades inclui confeccionar um banner e colocá-lo no pátio escolar, permite a participação ativa e formativa, associada a conceitos ecológicos e de sustentabilidade”, concluiu a professora.